terça-feira, 8 de junho de 2010

Carta que meu pai escreveu a um amigo...

Essa é outra visão a cerca do nascimento da Beatriz. Uma visão de alguém de fora, que esteve longe, mas que sabe viver com poesia.

A minha mãe não precisa escrever. Os olhos dela brilham poeticamente. Todo o esforço dela no acolhimento dessa criança deixou claro tudo o que ela sentia desde que a Bia estava na barriga. E nós sabíamos que os anos não seriam mais como antes, que a vida não seria como antes!

Obrigada aos dois pelo carinho. Erros foram cometidos e os serão sempre, desde que sejamos humanos. Obrigada por terem sido humanos comigo. É isso que eu quero ensinar a minha filha: a ser humana!
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“Demorou mas agora posso com calma te comunicar que sou avô!! Nasceu a Beatriz! Nasceu dia 09 de janeiro de 2008 com 2,850 no Hospital Publico de Brasília. Assisti a cesariana e correu tudo bem!! Foi uma emoção sem tamanho! A Luisa comandou todo o espetáculo!! Entrou andando no hospital voltou depois, pegou na minha mão e fomos juntos pra sala de cirurgia. Ela permaneceu calma, mas tensa todo o tempo. Na hora de pegar a veia pro soro, a Luisa quase desmaiou. Ela não pode ver injeção e a auxiliar não achava a veia. Futucava aveia. De repente, ouvi a Luisa dizer: esta tudo escurecendo vou desmaiar. Aconcheguei-a ao meu colo, e gentilmente passei a mao no seu rosto. Tentei passar todo o calor e tranqüilidade que pude. Ela relaxou, respirou e desviou o olhar. Tudo seguiu. A vestiram com aquele avental típico do hospital e a levaram para a mesa. Senti um misto de angustia e alivio. Minha menina indo pra longe de mim, uma espécie de território neutro e frio, o campo medico. E alivio, porque dali a pouco a gravidez se resolveria.... O nascimento. Nesse momento, sentei numa cadeirinha e deixei a cabeça viajar.... Mal vi o anestesista chegar. Virei os olhos e ele ja a deitava gentilmente. Um senhor calado e frio.... Mas tranqüilo. Puxaram conversa comigo. Angola, Luanda, a vida na Africa, as eleicoes no Quenia.... E eu, um olho no assunto, um olho na cirurgia. O anestesista sentou tambem. o bip bip tranquilo nos 80. A pressao normal.... Dez minutos depois, entra o pediatra. Eu nao me dei conta ate que vi um vagido, a circular de cordao, frouxa, sendo desfeita. Peguei a maquina. Evitei filmar aquela primeira cena da Beatriz vindo ao mundo. Olhei o relogio: 9 e 10. Fui egoísta. So eu vi a menina brotando da outra menina. Que milagre é esse que se renova sempre. Todos os dias. A toda hora. Agora mesmo. Quantas crianças estão nascendo nesse mundo de meu Deus... E que perigos! Ela abriu o olho esquerdo, o de la e se contorceu. O pediatra, atento, a abracou e a levou para a mesa. Acordei do transe. Liguei a camera e filmei. Calado. Pasmo. Vi... Ela estava roxinha. Pes e maos e rosto. Nada de cara de joelho. Incrivel, mas vi nela ali, naquele momento, o rosto de meu pai, Aluisio, de meu avo, Durval, da avo Colo, da tias , de minha mae.... O nariz, a boquinha, as maos em agito e o choro. Dizem que quando morremos revemos a vida toda nos ultimos momentos. Eu juro que vi, naqueles segundos de vir a vida da Beatriz toda minha familia, todos os ancestrais. Pareciam estar ali comigo uma legiao de almas da familia, gente querida e que pareciam estar abencoando o nascimento de mais uma na longa corrente da vida.... Sei la, senti muita coisa naqueles momentos sagrados.


O pediatra me passou a menina. Pesou uma tonelada e meia. Deve ter uns bons anos que nao carregava uma recem nascida. E neta, seguramente, nenhuma. Fiquei ali com cara de tacho, rindo e segurando o choro. Pensei na Narrima, na avo, e como ela estava feliz de viver aquilo tudo... e como ela gostaria de estar ali. Ai, toda a vida da menina se desdobrou num instante. A gente vai ficando velho, vai vendo tanta coisa, escutando tanta coisa, vai se esbarrando com tanta injustica, sacanagem, tanta coisa estranha, tanta gente que nao merecia estar vivo, tanta provacao, tanto sofrimento... Mas, com um bebe no colo, sangue de seu sangue, tudo se esquece, tudo se renova, tudo esta limpo em folha. Porque a vida e imperativa!! A vida simplesmente impera! Nada e mais inabalavel que a vida!! Eu sentia como se toda a natureza, todo o universo, todas as coisas vivas tivessem se comprimido naqueles dois quilinhos quentes e sebentos. Como se o seu choro visceral de boca toda aberta a plenos pulmoes fosse um novo big bang!!! E, no bloco cirurgico, os residentes suturavam a barriga da Luisa, o anestesista fazia seu relatorio e o pediatra matraqueava como um papagaio.... As enfermeiras tranquilamente faziam seu trabalho de mais um dia de plantao. Tudo normal. Tudo na mais completa ordem!! Mas tinha nascido a neta, porra!!! O milagre se renova e ninguem nota!!!

Nesse momento, me aproximei do rosto da Luisa. Seu rosto era tao sereno, tao feminino, tao mulher... A minha menina que nasceu na minha mao, agora se desabrochava numa altiva, madura e serena mae. Sorriu. Sorri. Beatriz sorriu... Eu me abaixei e a beijei na testa. Um gesto de respeito e reverencia pela mae mulher, milagre do mundo que se refazia naquele momento. Se refaziam ela, o pai que aguardava la fora, Beatriz, eu, o mundo, os pais do pai, a Narrima, minhas outras filhas, Artur, os padrinhos da Luisa, os amigos, minha mae, a pequena grande bisavo, os bisavos la no Rio Grande do Sul, minhas tias em Belo Horizonte, meu irmao Neneto e Juliana la no Nordeste, Ieie e Carminha em Patos de Minas, meu Deus, quanta gente renascia junto com a pequena Beatriz!!!

Dai vem o ritual de entrada no mundo. Se eu pudesse mudava tudo. Mas, sujeitei-me. A menina foi levada para uma sala ampla, clara, branca e muito limpa. Passou como que por uma esteira rolante. Suspirei fundo, liguei a camera e meditei. Buda tambem se encontra aqui. O big bang se deu, Vishna piscou de novo. E agora e concentrar no fato que Buda embebe tudo isso e que tudo e feito pelo bem dos bebes. Afinal a motalidade peri natal desse hospital e a menor do DF.... Ela foi banhada com agua morna numa pia de metal, pesada numa balanca digital e colocada peladinha num berco aquecido. Deram-lhe duas injecoes uma em cada coxa e pingaram aquelas famigeradas gotinhas de nitrato de prata nos olhos. Ela suportou tudo muito bem. Quase nao chorou.... Deitada no berco, chorava em intervalos regulares. Aos poucos foi ficando mais coradinha. Ficava quietinha um tempo, dai comecava a se mexer, tentava se virar, erguia bracos e pernas, se contorcia e chorava. Dai se acalmava com minha fala desconexa de avo maluco e comecava tudo de novo. Comecei um dialogo meio mental, meio sussurro com ela, enquanto esperava que a vestissem. O que falei, nao tenho nenhuma ideia!! Que profusao de imagens, flashes de minha infancia, sei la, de meu proprio parto, do nascimento da Luisa em minhas maos, dos desejos de ser amado, de amar, de conter aquele serzinho numa redoma de vidro, longe das agressoes do mundo. Falei de cores e nomes, de lugares estranhos, das maravilhas do entardecer do planalto central, da danca das bailarinas nas noites quentes das arabias. Dos mercados abertos das cidades africanas. Nao tenho ni puta ideia do que lhe disse naqueles momentos imoveis, pendulo de um tempo, que sei, nao voltara mais....

Depois, muito depois, fui ate onde estava a Luisa e definitivamente a passei a Beatriz.. Ai foi uma fase de mae com filha. Elas comecaram um bale de boca e peito. A enfermeira veio e ensinou a Luisa como dar o peito. E a pequeninha comecou a procurar o mamilo e a Luisa comecou a falar com ela. Uma conversa privada de mae com filha, que so elas sabem.... E a coisa foi. Ficamos ali um bom tempo, a filha ja no colo da mae, ja numa quase mamada e o avo babando......

Quase onze da noite, finalmente sai da sala e avisei a todos que estavam la fora aguardando. Achei que alguem ja tinha ido la, mas nada.... A ansiedade era total!!! Foi uma gritaria!!! E mostrei tudo na camera. Tecnologia!!! Minha vontade era a de beber todas!!!! De gritar, olha ai pessoal, a vida vence, a vida vence sempre! A vida sempre vem!!

E foi assim. Ha muito que queria contar essa historia para voce, mas so agora tive tempo e cabeca para tal. O ano promete!!! Agora, todo ano sera mais um ano de Beatriz. Em todo janeiro dois aniversarios. Beatriz e Luana. E todo ano um ano realmente novo. Avo!!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Nasceu!

50cm, 2845g, 39 semanas e 4 dias


Dia 09.01.2008, às 21:10 a menininha que tanto se mexia na minha barriga começou a mexer fora dela. Bem-vinda pequena Beatriz!

“Muitas vezes eu me perguntei, antes de você nascer, como é que eu cuidaria de uma filha. (...) Às vezes eu gostaria de ter o poder de fazer com que as coisas dessem certo pra você. Eu gostaria de ter dinheiro suficiente para lhe dar todas as coisas com que você sonha. Mas eu dei o que eu pude- seus cinco sentidos alertas, o mundo à sua volta. Pegue o que você quiser, acrescente a sua própria maravilha à soma de toda maravilha humana, e passe adiante o dom do amor.”
A mãe de uma pessoa especial passou isso a ela, que passou a mim e a Bia.

Assim que ela nasceu, antes mesmo de ouvir o chorinho dela, pude sentir o cheiro... estranho, gostoso, incomum, um cheiro confortável, mas principalmente estranho. Depois me dei conta que ela chorava, ou melhor, gritava! Aí então eu pude vê-la: ela é minha! Ainda não podia tocá-la, então só pensei que fosse muito bem-vinda e muito feliz! O toque veio, enfim, ela precisava mamar... parecia um bichinho a procura de segurança e conforto... procurava o peito instintivamente! Incrível! E o gosto pude sentir no primeiro beijinho que lhe dei... passei a conhecê-la então com os cinco sentidos, mas parece que já a conheço de um jeito muito mais íntimo que tudo isso aí! É como se ela sempre tivesse feito parte de mim e como se eu sempre estivesse pronta para recebê-la. Acho que isso é ser mãe, acho que isso é amor de mãe... e dali pra frente eu sabia que cada vez me sentiria melhor com aquela criança...

Meu pai não desgrudava dela, e depois foi embora... enrolaram a Beatriz em um monte de pano e a colocaram entre as minhas pernas, deitada na maca.. começaram a movimentar a maca, e meu único receio era que aquele pacote caísse das minhas pernas... por que não a deixaram nos meus braços? Chegamos no quarto, e minha mãe logo chegou. O enfermeiro pediu que minha mãe a pegasse pra ele me passar pra outra cama, e a minha mãe andava de um lado pro outro sem saber o que fazer!

Primeira noite não foi muito tranqüila... Senti meu útero contrair por diversas vezes: cólica, muitas cólicas! Senti dor... além disso, eu precisava amamentar (vou dedicar um post só pra isso), e deitada... o enfermeiro me ajudou! Um homem pegava no meu peito todas as vezes que a Bia precisava mamar... foram 12 horas de repouso absoluto! Eu queria um alívio!

Que veio com o primeiro banho no dia seguinte...=)