terça-feira, 8 de junho de 2010

Carta que meu pai escreveu a um amigo...

Essa é outra visão a cerca do nascimento da Beatriz. Uma visão de alguém de fora, que esteve longe, mas que sabe viver com poesia.

A minha mãe não precisa escrever. Os olhos dela brilham poeticamente. Todo o esforço dela no acolhimento dessa criança deixou claro tudo o que ela sentia desde que a Bia estava na barriga. E nós sabíamos que os anos não seriam mais como antes, que a vida não seria como antes!

Obrigada aos dois pelo carinho. Erros foram cometidos e os serão sempre, desde que sejamos humanos. Obrigada por terem sido humanos comigo. É isso que eu quero ensinar a minha filha: a ser humana!
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“Demorou mas agora posso com calma te comunicar que sou avô!! Nasceu a Beatriz! Nasceu dia 09 de janeiro de 2008 com 2,850 no Hospital Publico de Brasília. Assisti a cesariana e correu tudo bem!! Foi uma emoção sem tamanho! A Luisa comandou todo o espetáculo!! Entrou andando no hospital voltou depois, pegou na minha mão e fomos juntos pra sala de cirurgia. Ela permaneceu calma, mas tensa todo o tempo. Na hora de pegar a veia pro soro, a Luisa quase desmaiou. Ela não pode ver injeção e a auxiliar não achava a veia. Futucava aveia. De repente, ouvi a Luisa dizer: esta tudo escurecendo vou desmaiar. Aconcheguei-a ao meu colo, e gentilmente passei a mao no seu rosto. Tentei passar todo o calor e tranqüilidade que pude. Ela relaxou, respirou e desviou o olhar. Tudo seguiu. A vestiram com aquele avental típico do hospital e a levaram para a mesa. Senti um misto de angustia e alivio. Minha menina indo pra longe de mim, uma espécie de território neutro e frio, o campo medico. E alivio, porque dali a pouco a gravidez se resolveria.... O nascimento. Nesse momento, sentei numa cadeirinha e deixei a cabeça viajar.... Mal vi o anestesista chegar. Virei os olhos e ele ja a deitava gentilmente. Um senhor calado e frio.... Mas tranqüilo. Puxaram conversa comigo. Angola, Luanda, a vida na Africa, as eleicoes no Quenia.... E eu, um olho no assunto, um olho na cirurgia. O anestesista sentou tambem. o bip bip tranquilo nos 80. A pressao normal.... Dez minutos depois, entra o pediatra. Eu nao me dei conta ate que vi um vagido, a circular de cordao, frouxa, sendo desfeita. Peguei a maquina. Evitei filmar aquela primeira cena da Beatriz vindo ao mundo. Olhei o relogio: 9 e 10. Fui egoísta. So eu vi a menina brotando da outra menina. Que milagre é esse que se renova sempre. Todos os dias. A toda hora. Agora mesmo. Quantas crianças estão nascendo nesse mundo de meu Deus... E que perigos! Ela abriu o olho esquerdo, o de la e se contorceu. O pediatra, atento, a abracou e a levou para a mesa. Acordei do transe. Liguei a camera e filmei. Calado. Pasmo. Vi... Ela estava roxinha. Pes e maos e rosto. Nada de cara de joelho. Incrivel, mas vi nela ali, naquele momento, o rosto de meu pai, Aluisio, de meu avo, Durval, da avo Colo, da tias , de minha mae.... O nariz, a boquinha, as maos em agito e o choro. Dizem que quando morremos revemos a vida toda nos ultimos momentos. Eu juro que vi, naqueles segundos de vir a vida da Beatriz toda minha familia, todos os ancestrais. Pareciam estar ali comigo uma legiao de almas da familia, gente querida e que pareciam estar abencoando o nascimento de mais uma na longa corrente da vida.... Sei la, senti muita coisa naqueles momentos sagrados.


O pediatra me passou a menina. Pesou uma tonelada e meia. Deve ter uns bons anos que nao carregava uma recem nascida. E neta, seguramente, nenhuma. Fiquei ali com cara de tacho, rindo e segurando o choro. Pensei na Narrima, na avo, e como ela estava feliz de viver aquilo tudo... e como ela gostaria de estar ali. Ai, toda a vida da menina se desdobrou num instante. A gente vai ficando velho, vai vendo tanta coisa, escutando tanta coisa, vai se esbarrando com tanta injustica, sacanagem, tanta coisa estranha, tanta gente que nao merecia estar vivo, tanta provacao, tanto sofrimento... Mas, com um bebe no colo, sangue de seu sangue, tudo se esquece, tudo se renova, tudo esta limpo em folha. Porque a vida e imperativa!! A vida simplesmente impera! Nada e mais inabalavel que a vida!! Eu sentia como se toda a natureza, todo o universo, todas as coisas vivas tivessem se comprimido naqueles dois quilinhos quentes e sebentos. Como se o seu choro visceral de boca toda aberta a plenos pulmoes fosse um novo big bang!!! E, no bloco cirurgico, os residentes suturavam a barriga da Luisa, o anestesista fazia seu relatorio e o pediatra matraqueava como um papagaio.... As enfermeiras tranquilamente faziam seu trabalho de mais um dia de plantao. Tudo normal. Tudo na mais completa ordem!! Mas tinha nascido a neta, porra!!! O milagre se renova e ninguem nota!!!

Nesse momento, me aproximei do rosto da Luisa. Seu rosto era tao sereno, tao feminino, tao mulher... A minha menina que nasceu na minha mao, agora se desabrochava numa altiva, madura e serena mae. Sorriu. Sorri. Beatriz sorriu... Eu me abaixei e a beijei na testa. Um gesto de respeito e reverencia pela mae mulher, milagre do mundo que se refazia naquele momento. Se refaziam ela, o pai que aguardava la fora, Beatriz, eu, o mundo, os pais do pai, a Narrima, minhas outras filhas, Artur, os padrinhos da Luisa, os amigos, minha mae, a pequena grande bisavo, os bisavos la no Rio Grande do Sul, minhas tias em Belo Horizonte, meu irmao Neneto e Juliana la no Nordeste, Ieie e Carminha em Patos de Minas, meu Deus, quanta gente renascia junto com a pequena Beatriz!!!

Dai vem o ritual de entrada no mundo. Se eu pudesse mudava tudo. Mas, sujeitei-me. A menina foi levada para uma sala ampla, clara, branca e muito limpa. Passou como que por uma esteira rolante. Suspirei fundo, liguei a camera e meditei. Buda tambem se encontra aqui. O big bang se deu, Vishna piscou de novo. E agora e concentrar no fato que Buda embebe tudo isso e que tudo e feito pelo bem dos bebes. Afinal a motalidade peri natal desse hospital e a menor do DF.... Ela foi banhada com agua morna numa pia de metal, pesada numa balanca digital e colocada peladinha num berco aquecido. Deram-lhe duas injecoes uma em cada coxa e pingaram aquelas famigeradas gotinhas de nitrato de prata nos olhos. Ela suportou tudo muito bem. Quase nao chorou.... Deitada no berco, chorava em intervalos regulares. Aos poucos foi ficando mais coradinha. Ficava quietinha um tempo, dai comecava a se mexer, tentava se virar, erguia bracos e pernas, se contorcia e chorava. Dai se acalmava com minha fala desconexa de avo maluco e comecava tudo de novo. Comecei um dialogo meio mental, meio sussurro com ela, enquanto esperava que a vestissem. O que falei, nao tenho nenhuma ideia!! Que profusao de imagens, flashes de minha infancia, sei la, de meu proprio parto, do nascimento da Luisa em minhas maos, dos desejos de ser amado, de amar, de conter aquele serzinho numa redoma de vidro, longe das agressoes do mundo. Falei de cores e nomes, de lugares estranhos, das maravilhas do entardecer do planalto central, da danca das bailarinas nas noites quentes das arabias. Dos mercados abertos das cidades africanas. Nao tenho ni puta ideia do que lhe disse naqueles momentos imoveis, pendulo de um tempo, que sei, nao voltara mais....

Depois, muito depois, fui ate onde estava a Luisa e definitivamente a passei a Beatriz.. Ai foi uma fase de mae com filha. Elas comecaram um bale de boca e peito. A enfermeira veio e ensinou a Luisa como dar o peito. E a pequeninha comecou a procurar o mamilo e a Luisa comecou a falar com ela. Uma conversa privada de mae com filha, que so elas sabem.... E a coisa foi. Ficamos ali um bom tempo, a filha ja no colo da mae, ja numa quase mamada e o avo babando......

Quase onze da noite, finalmente sai da sala e avisei a todos que estavam la fora aguardando. Achei que alguem ja tinha ido la, mas nada.... A ansiedade era total!!! Foi uma gritaria!!! E mostrei tudo na camera. Tecnologia!!! Minha vontade era a de beber todas!!!! De gritar, olha ai pessoal, a vida vence, a vida vence sempre! A vida sempre vem!!

E foi assim. Ha muito que queria contar essa historia para voce, mas so agora tive tempo e cabeca para tal. O ano promete!!! Agora, todo ano sera mais um ano de Beatriz. Em todo janeiro dois aniversarios. Beatriz e Luana. E todo ano um ano realmente novo. Avo!!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Nasceu!

50cm, 2845g, 39 semanas e 4 dias


Dia 09.01.2008, às 21:10 a menininha que tanto se mexia na minha barriga começou a mexer fora dela. Bem-vinda pequena Beatriz!

“Muitas vezes eu me perguntei, antes de você nascer, como é que eu cuidaria de uma filha. (...) Às vezes eu gostaria de ter o poder de fazer com que as coisas dessem certo pra você. Eu gostaria de ter dinheiro suficiente para lhe dar todas as coisas com que você sonha. Mas eu dei o que eu pude- seus cinco sentidos alertas, o mundo à sua volta. Pegue o que você quiser, acrescente a sua própria maravilha à soma de toda maravilha humana, e passe adiante o dom do amor.”
A mãe de uma pessoa especial passou isso a ela, que passou a mim e a Bia.

Assim que ela nasceu, antes mesmo de ouvir o chorinho dela, pude sentir o cheiro... estranho, gostoso, incomum, um cheiro confortável, mas principalmente estranho. Depois me dei conta que ela chorava, ou melhor, gritava! Aí então eu pude vê-la: ela é minha! Ainda não podia tocá-la, então só pensei que fosse muito bem-vinda e muito feliz! O toque veio, enfim, ela precisava mamar... parecia um bichinho a procura de segurança e conforto... procurava o peito instintivamente! Incrível! E o gosto pude sentir no primeiro beijinho que lhe dei... passei a conhecê-la então com os cinco sentidos, mas parece que já a conheço de um jeito muito mais íntimo que tudo isso aí! É como se ela sempre tivesse feito parte de mim e como se eu sempre estivesse pronta para recebê-la. Acho que isso é ser mãe, acho que isso é amor de mãe... e dali pra frente eu sabia que cada vez me sentiria melhor com aquela criança...

Meu pai não desgrudava dela, e depois foi embora... enrolaram a Beatriz em um monte de pano e a colocaram entre as minhas pernas, deitada na maca.. começaram a movimentar a maca, e meu único receio era que aquele pacote caísse das minhas pernas... por que não a deixaram nos meus braços? Chegamos no quarto, e minha mãe logo chegou. O enfermeiro pediu que minha mãe a pegasse pra ele me passar pra outra cama, e a minha mãe andava de um lado pro outro sem saber o que fazer!

Primeira noite não foi muito tranqüila... Senti meu útero contrair por diversas vezes: cólica, muitas cólicas! Senti dor... além disso, eu precisava amamentar (vou dedicar um post só pra isso), e deitada... o enfermeiro me ajudou! Um homem pegava no meu peito todas as vezes que a Bia precisava mamar... foram 12 horas de repouso absoluto! Eu queria um alívio!

Que veio com o primeiro banho no dia seguinte...=)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

E o tempo vai passando...

45,1 cm, 1817g, 33 semanas


Fizemos os chás de fralda da pequena Beatriz! Foram 3 no total, e fiquei muito feliz com a quantidade de fraldas, mas principalmente com o carinho de todos!!! Tive surpresas boas como um professor meu que mandou fraldas!!! O primeiro foi com a família... o segundo com as pessoas da faculdade... e o terceiro com as amigas... No total foram 1 pacote RN, 23 P, 51M, 10G e 1XG!!! Sucesso Total!!!!

Começamos a lavar as roupinhas e ensacá-las.. tudo para que não haja surpresas!!! O quarto já está pronto, e está lindo!!!! É branco com uma parede verde, mandei fazer a cortina e comprei uns enfeites de madeira bem bonitinhos pra colar na parede!!!


Participei do primeiro cursinho para gestante, no hospital Santa Lúcia.. tudo para me dar mais segurança... Só tinha eu de mãe novinha, e mesmo aceitando já, e criando expectativas, quando vejo um monte de gente assim, me dá uma vontade de fugir, de sair correndo, de esconder a barriga...

É tão estranho pensar que daqui um pouco mais de um mês vai ter um bebezinho no meu colo!!! Tenho receio de como vai ser, mas a ansiedade está me corroendo!!! Curiosidade pra saber se é branquinha ou moreninha, se tem muito cabelo ou se é carequinha, qual a cor do cabelo... e dos olhos?? Tenho vontade de pegá-la logo no colo e me ver sem essa bola na barriga. Eu o que eu sinto é que quando eu estiver com a minha criança, vou amá-la e vou curtir muito, mas é que não adianta, eu não consigo curtir essa barriga...

Ah, fiz as fotos com a Luana. Eu não consigo me sentir segura e bonita (rs), mas as fotos ficaram muito lindas!!!!

Nesse tempo aconteceu uma coisa muito chata... tive contato com Rubéola, e passei um final de semana muito tenso por isso! O meu “querido” médico me falou que a rubéola na gravidez ataca o sistema nervoso central do bebê, como o da minha já estava formado, podia acontecer só coisas mais leves como surdez, problema de visão, etc... Fiz o exame de sangue, mas o resultado só sai semana que vem! Já chorei demais... tudo bem que já errei muito com esse bebê na minha barriga, mas deu tudo certo, aí de repente agora acontece alguma coisa que pode afetá-la?? Não posso pegar rubéola, não posso...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

“Every breath you take, every move you make... I’ll be with you!”

39,6 cm, 1084g, 28 semanas


“Já se pode sentir o soluço, treinamento da respiração, e o bebê já pode sonhar!”

Aos poucos o meu coração parece se acomodar. E ao poucos eu vou aprendendo a querer e a amar essa menininha que está aqui dentro. As relações com as pessoas também vão ficando mais naturais e começo a me cobrar menos. São muitas sensações e sentimentos novos, muitos dos quais eu não sei lidar. É realmente esquisito sentir algo se mexer dentro da própria barriga, e ela se mexe muito! E principalmente nas horas que eu quero descansar! Além disso, morro de azia, já carrego um vidro de sal de frutas dentro da bolsa!

Ainda tem uma coisa que eu não fico muito a vontade... todo mundo que me vê vem logo colocando a mão na minha barriga. Sei que é carinho com a Beatriz, e comigo também. Mas é que antes de ser a “casa” da Bia, é a minha barriga. E mais esquisito ainda é quando alguém já vem logo levantando a minha blusa. Que fique bem claro, eu não estou reclamando, mas que é esquisito, é!!! =)

Aconteceu uma coisa desagradável: fiquei furiosa com o meu médico! Existe uma tal ecografia em 3D que dá pra ter uma noção mais real do bebê, que eu queria muito fazer, só que o médico fez o favor de não me dizer que é recomendado que se faça essa ecografia entre a 24ª e a 27ª semana. Resultado: fiquei aos prantos por isso. E ele o que fez? Me deu uma caixa de lenço e me mandou achar um motivo mais importante pra chorar. Me senti ridicularizada. Eu sei que quando a neném nascer eu vou poder ver o rostinho dela, mas eu queria ver na ecografia. E se pra ele, é só mais uma gravidez, pra mim não é. É a MINHA gravidez e é a primeira, possivelmente a última!

É incrível como tem pessoas que fazem todo o esforço do mundo pra me ver bem e superar a minha depressão, e tem pessoas que sem o menor esforço conseguem me colocar pra baixo...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Beatriz

“Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz"

Trecho da música Beatriz, do Chico Buarque


E sendo uma menina, é Beatriz. Por que? Desde criança minhas bonecas se chamavam Beatriz. Poderia ser Isadora também, mas o pai prefere Beatriz.

Tenho passado por provas de fogo... primeiro, precisei contar ao primeiro amor que eu estava grávida. Só não foi pior, porque não foi ao vivo, ainda assim a conversa não foi menos tensa. Sabe o que é você pensar que um ponto final foi colocado numa história que você preferia que fosse sempre reticências? Saudade, muita saudade!

A segunda prova de fogo foi logo no dia do meu aniversário. Amanheci com muita vontade de chorar e de fugir do mundo! Almocei com a minha mãe e irmã, mas eu realmente não sentia vontade de comemorar nada! E já estava vivendo a agonia de a noite ter que encontrar amigos que ainda não sabiam da gravidez e o amor antigo! Recebi telefonemas que me fizeram chorar muito! E aí começaram as dores, fortes, nas costas. Eu não conseguia deitar, sentar, andar, ficar parada... que agonia! Fui pro hospital e foi lá que passei meu aniversário. Era cálculo renal. O meu único alívio foi não precisar encontrar ninguém!

Passado o meu sustinho com o parto do cálculo, fui pro Moinho. Viajei pra um lugar em que a maior viagem seria mesmo espiritual! Fui com pessoas queridas demais, e que me trataram sempre com muito carinho. Lá eu pude deitar na rede e ouvir a chuva cair, lágrimas escorreram dos olhos. Pela primeira vez me senti livre de cobrança. Era eu e a minha bebê! Lá eu não precisava contar pra ninguém a minha “novidade”, nem dar satisfações pra ninguém, nem me sentir julgada por ninguém. Eu consegui fugir do mundo. E isso me fez muito bem!

Agora é olhar pra frente!

“Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida.”

sábado, 15 de maio de 2010

É uma menina!

26,4 cm, 315g, 21 semanas


           “Já dorme e acorda, já se movimenta e já está com os 5 sentidos desenvolvidos”

Ela estava chupando o dedo, mas a médica não tirou a foto


Ainda na ecografia passada tivemos uma revelação: é uma menina! Pra variar, chorei... e chorei muito. Eu achava que era um menino, e sinceramente, eu torcia pra que fosse um menino. Por que? Eu achava que a relação e a aceitação do pai seria melhor se fosse um menino. E ele me consolou. Disse que nenhum de nós dois amaria menos aquela menina!

Em mais uma das tentativas de me animar, minha mãe me levou a várias lojas de bebês pra que eu escolhesse.. no final comecei a chorar muito e aceitei o que ela me disse que era o melhor. Essa brincadeira de casinha tava indo longe demais, eu começava a tentar acreditar que era verdade, mas me acabava de chorar cada vez que isso acontecia.

A minha mãe parece estar empolgada. Pra mim, exageradamente empolgada. E essa empolgação me atropela. Sei que ela só quer me ver feliz, mas sinceramente, eu preciso de tempo! Mas que tempo? Daqui há uns meses essa criança está aí.. ai!

Minhas aluninhas do ballet fizeram uma festinha de boas-vindas pro bebê! Eu confesso ter adorado o carinho, e me espantou a felicidade delas em eu estar grávida. É tão incrível como na cabeça das crianças não passa nenhuma preocupação! Todas elas me deram presentinhos, dançaram, riram, fizeram carinho na minha barriga. E sinto que foi das primeiras vezes que não me senti criticada, julgada... essa inocência infantil me balançou, e me fez não querer me afastar das minhas aluninhas, elas foram um conforto pra mim, foram um lugar seguro longe do mundo real!

No mundo real, eu olho pro espelho e não me reconheço... essa barriga não é minha, não pode ser minha. Tenho medo do olhar de todos. Tenho medo do julgamento de todos. Fiz errado, eu sei, mas a maior culpa que eu sinto está na minha cabeça. Às vezes chego a me empolgar com as roupinhas, sapatinhos, com a mudança do quarto, mas quando me dou conta que isso não é uma brincadeira da minha infância, me bate um desespero.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Carta do meu pai

Contei ao meu pai por e-mail da gravidez, e ele escreveu uma carta muito bonita. Não vou reescrevê-la inteira, mas as partes mais importantes estarão aqui.


“Luanda, 23 /07/2007

Minha querida Luísa,

Quando vocês nasceram, eu consultei o I Ching. Esse livro é um manancial de sabedoria incrível de cinco mil anos de existência e me acompanha desde essa época dos anos oitenta. Era moda na época e me veio às mãos por intermédio do Mário Grassi. Ele adorava e me mostrou como usar. Daí pra frente, volta e meia eu o consulto quando acontecem fatos marcantes na vida. Claro que não podia deixar de consultar agora que vai nascer seu bebê.

(...)

E agora eu perguntei: o que representa o bebê da Luísa?

E veio a reposta:

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 26 TA CH’U/O PODER DE DOMAR O GRANDE

Acima a Montanha, Kên, abaixo o criativo, o Céu. Sempre a Montanha, a quietude. Aqui, a Montanha contém o céu. Por isso a imagem de domar o grande.

Aqui há três sentidos:

1. Conter no sentido de manter unido;

2. Sujeitar no sentido de deter;

3. Sujeitar no sentido de atender e nutrir.

Claro como água!!! O momento é de contenção. De conter. Nos dois sentidos. No sentido de deter, parar, mergulhar em si mesma. Parar com as loucuras e movimentos do mundo. E conter no sentido mais visceral de uma gravidez. A vida que contém outra. A imagem é, em si, belíssima!!! E, de quebra fala em manter unido!!! A gravidez como algo que vai manter unida a relação. Ou seja, o caminho de pôr a cabeça no lugar e seguir adiante!

Nas mutações, os recados foram claros! “As presas de um javali castrado. Boa fortuna!!!”

E, o “caminho do céu é alcançado! Sucesso.”

Ou seja, vai se uma época de contenção seguida de uma época de abrir caminho e alcançar o sucesso!!!! Essa criança vem com uma bênção para todo mundo.

Eu fiquei muito preocupado com sua carta. A culpa era enorme e o medo de um esporro também! Como fazer isso se já tinha te falado de gravidez uns meses atrás? (...)

Uma coisa é certa: o amor comanda tudo. Acho que o segredo foi deixar-me levar no barco do amor e ir levando a vida sob essa ótica indelével A ótica do amor; a ética da vida; e a estética do humor. O tripé de uma viva bem vivida! Uma vez escrevi: o amor é essencial. E o humor, fundamental. O equilíbrio que permite a vida. E, acrescento a beleza, como um fator de Beleza\estética, mas englobando o pensamento e as emoções. O belo no seu sentido mais amplo e profundo. A beleza, como somente uma libriana pode captar. Por que libra é o símbolo da beleza no zodíaco.

Assim tem sido a minha vida de pai. De amante, de ser no mundo, sempre perplexo e em mutação. Sempre disposto a correr riscos e a caminhar de peito aberto na escuridão. Claro que o medo está em tudo isso...Esse medo que você sentiu. O medo de quem sempre fez tudo certinho e agora, porra quê que o meu pai vai falar?”

Medo do futuro que se abre com sua boca escancarada. Filho é um compromisso de toda a vida. É uma assinatura numa carta em branco que vai ser preenchida ao longo de toda a sua vida.!!! É uma porta. Uma grande abertura para o que virá. E quem sabe o que virá? Lembra a música do Toquinho, “Aquarela?” Pois é. A tal astronave louca que chega sem pedir licença, muda nossa vida e depois convida pra rir ou chorar!!! Isso é belo. Toda gravidez tem algo de belo. Você deve estar linda!!! Peituda e bunduda!!! Uma mulherzinha muito linda!!! E cabia na palma de minha mão!!! O dedo era um fiapinho. O pé, quase nem existia. Hoje tá aí, pronta para viver a maior experiência dada a um ser humano viver.

Voltando ao seu Hexagrama, somente agora ele me faz sentido. Aqui diz, que a tranquilidade interna, aliada à alegria extrema, faz com essa alegria não se exceda e permaneça dentro dos limites corretos.

É assim que me sinto. Comedidamente alegre!!! O fato de ter descendência faz um pouco de carinho no coração e diz, podes morrer, seu nome vai prosseguir. Porque já penso nisso. Sei tanta coisa! Aprendi tanto! Estudei tanto! E tanta coisa que ninguém mais sabe, que me dá medo de morrer e não transmitir pra ninguém. De que valerá ter vivido, se ninguém sabe o que eu sei? E aí vem você, a mais politicamente correta das filhas e fica grávida... E logo aquela que fica eivada de dúvidas de afeto e coisa e tal. Não! Você não está sozinha! Não, todos amamos muito você! Não, ninguém vai te olhar feio porque você, definitivamente, não fez nada de errado!!! Podia ser numa época melhor? Quando é essa época? Depois de formada quando você vai estar trabalhando igual a uma maluca? Quando você achar o homem ideal e casar com ele? Mas onde está esse príncipe encantado? Alguém já arriou o cavalo branco dele? Essa de sexo só na hora certa sempre me deu no saco! A vida é mais forte que tudo!!! E há uma beleza nisso. Algo que só o tempo vai dizer. Assim são as coisas. (...)

Era um domingo de sol. À tardinha, a lua nova veio se juntar à estrela d’alva e eu disse a mim mesmo: a primeira é minha e a segunda é do mundo. E o curioso é que você tem ascendente em peixes fechando ciclos, enquanto Laura está reiniciando um. É preciso entender que, segundo Yung, um psicanalista discípulo de Freud, a cada um é dado desafios que ele próprio tem forças para suportar. Você agora vai ver a vida de pernas para o ar. A época é de contenção, como bem disse o I Ching. É preciso saber levar as coisas no barco do amor. Você acaba de cruzar a ponte para a maturidade. Aproveite! Sei que criar um filho é foda! Mas é bem prazeiroso também. (...)

É isso aí. O ideal é manter a mente aberta, a espinha ereta e o coração tranquilo…

Um beijo no coração e minha bênção.

Papi/vovô Beto”